quinta-feira, 20 de junho de 2024

Não, não vamos dar colinho aos eleitores do Chega

 


"Não, não vamos dar colinho aos eleitores do Chega"

Uns dias antes das eleições, escrevi o texto abaixo.

Entretanto terça feira, já no rescaldo das eleições, Henrique Raposo escreveu no Expresso um texto com o titulo acima e que reproduz bem o que penso sobre este tema.


Este foi o meu texto:

"Democracia é o pior dos regimes, à excepção dos outros todos"

Sir Winston Churchill


Muito se tem falado sobre a votação esperada para o chega e o facto dessa votação representar sobretudo um voto de protesto.

Lamento, mas não consigo seguir essa ideia. Naturalmente que se se trata apenas da minha opinião e por isso vale o que vale. Considerar que o voto no chega é uma forma de protesto contra o sistema politico, é a mesma coisa que achar que o comportamento violento e fanatizado das claques de futebol é uma forma de protesto contra o mundo do futebol. Não é. É muito mais fundo e muito mais perigoso do que isso. É, como costumo dizer, o ovo da serpente.

Aquilo que me parece é que essa ideia do voto de protesto não passa de uma fantasia criada nalgumas cabeças bem pensantes de esquerda e de direita, para tentar encontrar uma justificação para aquilo que nos recusamos todos a ver: existe uma parte significativa da população que não se revê no sistema democratico e defende uma solução autocrática em que eles possam ter o controlo de forma a abafar as vozes contrarias. É uma fação da sociedade que não aceita a diferença e que recusa a mudança e a evolução. São os mesmos que dão força a trump, orban, erdogan e outros. Reduzir isto a um voto de protesto é muito perigoso pois normaliza uma visão da sociedade oposta ao modelo da democracia liberal que vivemos e defendemos, e que por isso deve ser combatida.

Por isso também não concordo com aqueles que dizem que os eleitores do chega não devem ser estigmatizados; pelo contrário eu acho até que devem ser bastante estigmatizados (o que é diferente de rejeitar os seus votos), porque não o fazer é normalizar uma visão que tem em vista acabar com o nosso modo de vida tal qual o concebemos nas sociedades democráticas ocidentais.

E da mesma forma (e também pelos mesmos motivos) que devemos estigmatizar Putin e os seus apoiantes que pretendem exactamente o mesmo, devemos tambem estigmatizar o voto no chega, fazendo com que cada eleitor que decida colocar o seu voto nessa força politica o faça sentindo embaraço e vergonha. Dirão: mas isso não resolve nada porque eles votarão na mesma no chega. Talvez. Mas pelo menos não normalizamos uma visão que põe em causa aquilo que defendemos, para nos e para os nossos filhos, e sobretudo não abdicamos dos nossos principios.

A três dias das eleições, o importante para mim não é verdadeiramente saber se ganha o PS ou a AD, pois com qualquer um deles a nossa liberdade e a nossa democracia estão garantidas. O importante é mesmo saber se o chega tera força para condicionar o poder político.

Para bem de nós todos, esperemos que não.


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