sábado, 27 de março de 2010

De volta ao aconchego

Pois é, estou de volta á blogoesfera.
Depois de quase um ano em que não escrevi, e em que tanta coisa foi acontecendo (o regresso da Grécia, a readaptação a Portugal, novos desafios profissionais, mas também a interessante e frutuosa - e nada autista - discussão sobre a liberdade de imprensa, o caso TVI, o casal Moniz/Guedes (os nossos Branjolie tugas), o inefável Crespo, o PEC, a imparável caminhada do Benfica para a vitória, e agora como a cereja em cima do bolo, a nova e estimulante liderança do PSD, depois de um confronto em que estiveram envolvidos 4 igualmente estimulantes candidatos, e que veio substituir a não menos estimulante liderança de MFL, senti chegado o momento de voltar a escrever algumas coisas que vou pensando sobre o momento que vivemos.
Pode não servir de nada, mas pelo menos alivia-me.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Está tudo doido ...

Escola proíbe música de Quim Barreiros

A canção Garagem da Vizinha, de Quim Barreiros, foi considerada imprópria pelo Conselho Executivo de uma escola da Azambuja, que impediu os alunos de a passarem na rádio do estabelecimento, escreve o Correio da Manhã
«Uma professora de Educação Musical achou que a letra da música não era adequada para o intervalo da manhã dos alunos do primeiro ciclo», explicou o vice-presidente do Conselho Executivo ao CM.
Depois de a direcção falar com os alunos, a música foi retirada do ar «uma vez que não estava inserida em nenhuma programação especial».
A decisão não agradou a todos e muitos encarregados de educação consideram a decisão um acto de censura inadmissível.

In SOL online


De facto vivemos tempos extraordinários … Como se pode ler na notícia publicada edição online do “Sol”, parece que houve muitos encarregados de Educação de alunos do primeiro ciclo (ou seja de crianças entre os 6 e os 10 anos) que acharam a decisão de proibir a passagem desta canção do Quim Barreiros (essa grande referência da cultura tuga) na rádio da escola que os filhos frequentam, “um acto de censura inadmissível”!

Mas está tudo parvo ???? Alguém em seu perfeito juízo pode achar que as musicas do Quim Barreiros são adequadas para passar nas rádios escolares (ainda para mais do 1º Ciclo) ?


Estes encarregados de "educação" ainda devem sofrer do trauma do anti-fascismo ... Só falta mesmo Manuel Alegre opinar sobre o tema ...

Para que não haja dúvidas que a decisão tomada pela escola foi correcta, abaixo se transcreve a letra da canção:

A Garagem Da Vizinha

Lá na rua onde eu moro, conheci uma vizinha
Separada do marido está morando sozinha
Além dela ser bonita é um poço de bondade
Vendo meu carro na chuva ofereceu sua garagem!

Ela disse: ninguém usa desde que ele me deixou!
Dentro da minha garagem teias de aranha juntou!
Põe teu carro aqui dentro, se não vai enferrujar!
A garagem é usada mas teu carro vai gostar!

Refrão:
Ponho o carro, tiro o carro, há hora que eu quiser
Que garagem apertadinha, que doçura de mulher
Tiro cedo e ponho à noite, e às vezes à tardinha
Estou até mudando o óleo na garagem da vizinha!

Só que o meu possante carro, tem um bonito atrelado,
Que eu uso pra vender cocos e ganhar mais um trocado
A garagem é pequena, o que é que eu faço agora?
O meu carro fica dentro, os cocos ficam de fora!
A minha vizinha é boa, da garagem vou cuidar
Na porta mato cresceu, dei um jeito de cortar!
A bondade da vizinha, é coisa de outro mundo
Quando não uso a da frente, uso a garagem do fundo!

domingo, 10 de maio de 2009

A hora do balanço

Assim caminha para o fim penosamente, sem brilho nem glória, mais um campeonato em que o Porto é um justo campeão, o Sporting merece inteiramente o segundo lugar, e em que o Benfica se arrisca a nem conseguir ficar em terceiro lugar.
No que respeita ao Benfica, e chegados a esta altura, devem os principais intervenientes tirar as devidas conclusões (sob pena de que alguem as tire por eles).

Sem me querer deter (para já) noutros, comecemos com Quique Flores. Mesmo eu, que não percebo nada de futebol, consigo apontar-lhe uma série de erros ao longo deste ano que só podiam conduzir a este resultado. Na minha opinião os principais foram:

- Ter deixado no banco o melhor marcador do Benfica da época passada (Cardozo) metade da época. Quando percebeu o tremendo erro (e aproveitando uma oportuna lesão de Suazo) lá o acabou por meter a jogar e este termina a época novamente como o melhor marcador da equipa.

- Ter utilizado Nuno Gomes apenas como suplente durante uma parte significativa do campeonato. Nuno Gomes é um dos jogadores mais inteligentes e maduros da equipa (a par de Katso) e a sua entrada faz toda a diferença na equipa.

- Ter afastado Leo, talvez o melhor jogador naquela posição que o Benfica teve em muitos anos.

- Ter colocado Katsouranis igualmente no banco;

- Ter convencido o Benfica a pagar 4M€ por Balboa;

- Ter insistido em Di Maria ( que como ontem se viu mais uma vez, pouco lá anda a fazer, e ainda por cima faz birra a sair);

- Ter insistido, durante uma parte significativa do campeonato (e nas provas internacionais) em Bynia que raramente conseguiu acabar um jogo sem ser expulso;

- Ter criado uma situação absolutamente desnecessária com Quim numa fase crítica do campeonato;

- Fazer declarações públicas sobre os jogadores (como foi o caso com Reys) o que provavelmente veio condicionar em muito a sua prestação

Por tudo isto é evidente que Quique tem de sair (e quanto mais depressa melhor para não condicionar mais as escolhas do próximo treinador). Até que, para além dos erros óbvios, Quique tem ainda uma particularidade que é a de não assumir os seus erros. Não. Para Quique os culpados são sempre os jogadores, e nunca as suas opções. Ainda ontem no final do jogo com o Trofense insistiu nessa tecla, como se pode ler nesta notíca do "Diário Digital":


Benfica: Quique assume «dor» com o adeus ao 2.º lugar

Quique Flores, assumiu este sábado sentir «dor» com um eventual afastamento definitivo do segundo lugar da Liga portuguesa de futebol, após o empate com o Trofense (2-2), na 28.ª jornada da Liga portuguesa.
«O que me dói é termos menos pontos do que prevíamos e que a equipa estava preparada para ter. A estatística não interessa, não importa se temos mais posse de bola, mais remates, o que dói é saber que somos capazes e não conseguirmos exercer essa superioridade sobre os adversários», disse o técnico, em conferência de imprensa.
Admitindo a falta de «oito pontos», Quique Flores, evocando o piloto de Fórmula 1 Fernando Alonso, reconheceu ter «faltado motor» aos «encarnados»:
«não sei se por sorte, coragem, determinação, qualquer coisa a mais que se exige a uma grande equipa».

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O Pai Tirano

Aprovada com raro consenso (só não houve unanimidade porque António José Seguro resolveu destoar), a nova lei de financiamento dos partidos políticos aumenta 55 vezes o limite que estava em vigor até agora.
Com base na nova lei, os partidos podem receber agora receber mais de um milhão de euros em dinheiro vivo.

Como diria o saudoso Vasco Santana no "Pai Tirano",

- Carneiro amigo, andamos todos ao mesmo ...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Os 3 Estarolas

The Three Stooges (Os Três Patetas, no Brasil, Os Três Estarolas, em Portugal) foi um grupo cómico muito famoso no cinema norte-americano no Século XX.

Lembrei-me deles, a propósito da recente polémica da papa Maizena que envolveu Basílio Horta, Paulo Rangel e Manuel Pinho, e onde estamos perante mais uma situação pré-eleitoral onde 3 candidatos concorrem ao prémio do maior disparate:

Comecemos por Basílio Horta,: De facto não lhe compete comentar as propostas dos candidatos, a não ser que seja questionado directamente sobre o tema e nesse caso deve limitar-se a ser factual. E nesse aspecto Paulo Rangel tem razão. Mas como de vez em quando parece que é preciso justificar a nomeação, lá se ajeitou para o frete… E acabou por mandar ás urtigas definitivamente qualquer dignidade relativamente ao cargo que ocupa, quando respondeu directamente a Paulo Rangel acusando-o de ignorância e arrogância.

É uma pena Basílio Horta não manifestar a mesma capacidade de resposta na captação de investimento estrangeiro para Portugal nestes tempos difíceis … em vez de andar a comentar candidatos ou a desabafar que já não sabe o que se há-de fazer para ultrapassar a crise...

Passemos a Paulo Rangel: começou bem, quando referiu que o papel do Presidente da AICEP não é comentar as propostas dos candidatos. A partir de ai, embalado nas suas palavras desatou a disparar em todas as direcções e ao querer menorizar Basílio Horta considerando-o um mero funcionário, ao afirmar que estava habituado a ser comentado apenas por ministros, bem como ao intitular as medidas existentes como "programinhas da AICEP" acabou por perder qualquer razão que pudesse ter e acabou também por se tornar ridículo.

Por fim entra Manuel Pinho: A refrescante entrada de Pinho é sempre bem vinda em qualquer polémica, pois habitualmente a sua presença acrescenta um toque de humor e boa disposição que normalmente ainda não está presente na discussão … E que não se pense que esta característica de Pinho é algo que só os seus adversários lhe apontam. Não, mesmo os que gostam dele não resistem a utilizá-lo para uma boa piada.


Ainda está certamente na imagem de todos a forma como Hugo Chavez lhe dedicou (bem como ao Ministro das Obras Públicas), uma canconeta em plena conferência de imprensa em Lisboa: Pinho e Lino, Lino e Pinho, Pino e Lino, Linho e Pino…

Vai dai Pinho decide entrar na refrega e igualmente entusiasmado pelas suas palavras deixa-se arrastar pelos seus aparentemente parcos conhecimentos de culinária e puericultura, confunde Maizena com Cerelac (como muito bem nota o jornal “Público”) e desata igualmente a disparar sobre Rangel Paulo incentivando-o a "comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares de Basílio Horta".

Depois, ou porque alguém lhe disse alguma coisa, ou porque se lembrou de MFL, veio esclarecer o que tinha dito dois dias antes (se a moda pega vai ser bonito): Afinal respeita muito Rangel, gosta mesmo dele, apenas acha que ainda não chega mesmo aos calcanhares de Basílio Horta (esse outro monumento de coerência política) …

Rangel por seu lado, sentindo que está a perder 1-0 no campeonato da vitimização face a Vital Moreira, aproveitou a oportunidade, e colocando igualmente um ar de vítima queixou-se de agressões verbais (á falta de uns empurrões ou de umas garrafas de água como o seu adversário) e diz também que lhe chamaram nomes feios …

Conseguindo ser o Ministro que mais gaffes produz, isso não é para Pinho razão suficiente para só falar quando lhe perguntam alguma coisa...não; Mesmo não sendo solicitado para isso, Manuel Pinho também gosta de dar a sua opinião. E isso percebe-se até porque relativamente á pasta que ocupa, na realidade ninguém lhe pergunta coisa nenhuma. Isso é aliás uma das razões que o tornam uma personagem ainda mais interessante nestes tempos difíceis, pois é um mistério perceber porquê que ninguém está realmente muito interessado em saber o que pensa o Ministro da Economia …


Por tudo isso, o prémio vai direitinho para Manuel Pinho.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Calvário Eleitoral dos portugueses

Tudo leva a crer que as eleições europeias serão o primeiro passo de uma Via Dolorosa eleitoral que o país vai atravessar até ao final de 2009. E a escolha dos cabeças-de-lista não parece indiciar nada de bom …

Comecemos pelo PS: Neste momento já ninguém parece ter grandes dúvidas que a escolha de Vital Moreira pelo PS foi o maior erro de casting que José Sócrates cometeu desde que é Primeiro-Ministro. De facto convenhamos que escolher aquele clone do Avô Cantigas, com uma capacidade de dinamizar o eleitorado quer pela imagem quer pelo discurso só comparável a Dias da Cunha, parece consubstanciar um autêntico suicido político, numas eleições que já de si convidam (infelizmente) ao absentismo, mas que podem ser cruciais para marcar o ritmos das outras que se seguem.

As prestações de Vital Moreira, que não demonstra grande vitalidade (perdoe-se a blague, que era previsível – mas irresistível!) no exercício do seu papel de candidato colocando-o a defender a Europa (logo ele que foi um dos que foi contra a adesão á CEE, mas isso claro, foram noutros tempos …) tornam ainda mais incompreensível e inaceitável a forma como foi recebido pelos militantes comunistas no 1º de Maio: Em vez de lhe atirarem com água e com latas, deviam era aplaudi-lo e mandar-lhe beijinhos por ter saído do PC …

Mas o seu melhor momento para mim até agora foi quando exigiu que o PC lhe pedisse desculpa pelas malfeitorias cometidas.


Malfeitorias? Mas alguém ainda usa essa expressão?

E depois o seu esforço em associar o ocorrido aos incidentes da Marinha Grande foi notável. E a forma como ninguém lhe deu troco sobre isso também teve a sua piada. Ele bem tentou colar-se á imagem de vítima que Soares tão bem soube explorar. Só que Mário Soares é uma raposa velha. Este, mesmo tendo sido comunista noutra encarnação (como nos parece quer fazer crer), é um menino comparado com Soares.

Malfeitorias? Mas estamos a brincar?

Quanto á autárquicas a escolha do PS recaiu (naturalmente) em António Costa. Tendo em conta que o PS já atraiu para a sua lista em Lisboa o Zé ex-Bloco de Esquerda, e também lá manteve a inefável Helena Roseta, está tudo dito … é por tudo isto que não sei se hei-de rir ou chorar quando ouço os candidatos a falarem em mudança.

Não sejamos líricos nem tomemos as pessoas por parvas: António Costa não muda nada, Pedro Santana Lopes não muda nada, tal como não mudaram coisa nenhuma quer os próprios quando lá estiveram, quer como também nada mudaram Carmona Rodrigues, ou João Soares. As únicas coisas que mudaram foram os Presidentes, os assessores e a restante entourage …

Na minha opinião só houve ao longo destes 35 anos de democracia um homem com capacidade, conhecimento e coragem para mudar Lisboa e torná-la uma cidade melhor. Mas nunca nenhum partido (dos que ganham eleições) teve a coragem para avançar com o seu nome para a presidência da Camara pois sabiam que com ele as coisas de facto mudavam. E nisso ninguém efectivamente está interessado.

Esse homem chama-se Gonçalo Ribeiro Telles.

Quanto ao Porto a escolha recaiu sobre Elisa Ferreira, que pelo que já se percebeu está muito contente por ser finalmente candidata á Câmara, mas ainda não se percebeu exactamente o que defende…

Para Sintra e em simultâneo para o Parlamento Europeu vem Ana Gomes em grande forma. Aliás acho que esta sim foi a escolha mais inteligente do PS: Ocupá-la com várias eleições, sempre permite mantê-la entretida e não discorrer sobre coisas sérias durante os próximos meses…

Restam as eleições para o Parlamento. Apesar de tudo e face á concorrência, continuo a achar que José Sócrates é o melhor deles todos. Pena é ser do PS …

Segue-se o PSD com o dinamismo que o caracteriza. Em primeiro lugar nas Europeias foi buscar para liderar a sua lista Paulo Rangel, que segundo dizem os entendidos tem como principais atributos não depender da política e ter vida própria (isso sim, é de facto positivo), e ainda o facto de ser um líder parlamentar em ascensão, que está quase, quase, a conseguir ganhar um debate a José Sócrates …

Relativamente a este candidato, a sua ideia mais interessante para apresentar ao Parlamento Europeu parece ser, segundo ontem era noticiado, a proposta de criação de uma espécie de Programa Erasmus para o emprego. Ou seja, e dito por outras palavras, vamos mas é acelerar a emigração sobretudo dos mais jovens e mais capazes que isto por aqui está bera…

(Em tempo: Parece que Paulo Rangel ficou muito enxofrado com Basílio Horta – outro monumento de coerência política … - por este ter afirmado que as medidas propostas pelo candidato do PSD ao Parlamento Europeu relativas à criação de emprego para jovens europeus "já existem". Basílio Horta afirmou que o programa Inov Contacto, destinado à mobilidade dos jovens à procura do primeiro emprego, e o programa Vasco da Gama, para colocação de empresários no estrangeiro, já estão em marcha. Então querem lá ver que a proposta inédita de Rangel ainda por cima nem sequer é original?)

Também aqui acho que se podia ter escolhido bastante melhor. No entanto se o compararmos com as escolhas sociais-democratas para as restantes eleições, este é apesar de tudo, o menos mau dos cabeças de lista do PSD.

Escolher (ou aceitar) Santana Lopes como candidato a Lisboa, marcou (e enfraqueceu) definitivamente o mandato e a imagem de MFL á frente do PSD. Para quem assentou a campanha em nome da verdade, da coerência e da competência, apresentar PSL como candidato á CML diz tudo sobre os compromissos que a política exige. É é por isso que penso que as pessoas devem, antes de falarem tanto em nome dos princípios, pensar um pouco sobre até que ponto estão dispostos a ir por eles. E é também por isso que cada vez que começo a ouvir algum político falar de coerência, desconfio… E tenho para mim que não sou o único (como diziam os Xutos).

Para o Porto a escolha recaiu na continuidade com Rui Rio (finalmente alguém capaz!), e em Sintra mantém-se de pedra e cal esse grande benfiquista, meu ex-professor na Faculdade, e futuro Presidente do Glorioso, Fernando Seara, que no meio da sua sempre muito ocupada agenda de múltiplas intervenções televisivas para falar sobre futebol, lá vai gerindo a cidade (bem melhor que o seus antecessores, diga-se de passagem).

Para terminar o passeio sobre as candidaturas do PSD ás autárquicas resta dizer que o aspecto mais positivo destas eleições é que figuras como Isaltino Morais e Valentim Loureiro continuam fora das listas do partido, graças a Marques Mendes. E em boa hora o fez, pois se Santana Lopes foi recuperado com tanta facilidade (embora, sejamos francos, tratam-se de situações completamente distintas e em nada comparáveis) caso fosse MFL já líder nessa altura, muito provavelmente veríamos agora o PSD ganhar novamente a presidência das Câmaras de Oeiras e Gondomar …

A cereja em cima do bolo dos cabeças de lista sociais-democratas termina com a própria MFL como candidata a Primeira-ministra de Portugal. Não sou daqueles que face ao desempenho de Manuela Ferreira Leite sentem saudades de Luís Filipe Meneses ou de Pedro Santana Lopes. Não; Apesar de tudo a senhora não é assim tão má…

Acho é que também aqui estamos igualmente perante um tremendo erro de casting. Sejamos claros: Independentemente do seu mérito, uma pessoa com as dificuldades de comunicação que MFL revela, e em que por cada frase que diz obriga a que se sigam 10 esclarecimentos e 10 desmentidos, quer da própria quer de terceiros, não é, não pode ser, nem aqui nem em qualquer lugar do mundo democrático, uma boa candidata a Primeiro Ministra.

Não quer isto dizer que até nem pudesse ser eficaz a chefiar um governo. Provavelmente Salazar teria perdido eleições se a sua permanência dependesse da sua oratória. No entanto quando chegou ao governo também endireitou as contas do Estado. Só que isso apenas não basta …

Para além disto, a empatia que gera com o eleitorado também deixa bastante a desejar. Ninguém retira á senhora os seus atributos de seriedade (quanto á competência e tendo em conta os resultados atingidos nas pastas que chefiou no passado isso é mais discutível).


Mas não seria melhor que no seu lugar estivesse alguém que apesar de todas as dificuldades que vivemos, nos fizesse sentir menos deprimidos cada vez que fala? Alguém que soubesse transmitir o entusiasmo necessário para ajudar o país e os portugueses a ultrapassar a crise? Alguém que abandonasse de vez em quando aquele ar de coveiro? Alguém que demonstrasse colocar efectivamente o interesse nacional sobre o interesse partidário?

Imagino o que não seria o mundo hoje em dia, se em 1940-1945, na frente de combate ao nazismo estivesse então Manuela Ferreira Leite em vez de Winston Churchill … depois das suas intervenções (que no caso de Churchill ficaram para a História – embora as de MFL também pareçam que vão ficar, mas por motivos diferentes) para além de não se perceber exactamente porque ideais combatiam os Aliados ou se a Inglaterra estaria do lados dos Aliados ou do lado do Eixo, em vez da coragem e a determinação com que os ingleses enfrentaram a ameaça totalitária, desatava toda a gente a correr para os braços do Adolfo para se animar …

Mas este é um problema que o PSD irá obviamente resolver lá mais para o final do ano… Só espero que não o agrave escolhendo Passos Coelho para a sucessão …

Depois temos os restantes candidatos às eleições europeias: Ilda Figueiredo pelo PC, e Miguel Portas pelo BE, que não trazem nada de novo. Apenas Nuno Melo parece ser uma escolha inteligente e acertada (embora as más línguas digam que é uma espécie de exílio dourado criado para quem se destacou demasiado nas comissões parlamentares. Parece que há quem não goste de sentir muita concorrência perto de si …).

Quanto ás restantes eleições e sobre estes partidos pouco mais há a acrescentar excepto ser curioso observar o que vai o BE dizer do Zé nesta campanha, depois de ter andado a pregar até á exaustão na anterior que o Zé fazia falta … Ou então ver por quem vai Manuel Monteiro candidatar-se desta vez ...

A Previsão do défice

Foram ontem apresentadas as previsões da União Europeia relativamente á evolução económica expectável para os próximos dois anos. Tal como se esperava, o cenário adensou-se face ás anteriores previsões. A economia deverá contrair-se 3,7% este ano e 0,8% em 2010 e o défice deverá ser de 6,5% e 6,7% em 2009 e 2010 rspectivamente.

O que não deixa ainda de espantar um mero espectador da política nacional (como eu), é o coro de reacções que imediatamente se seguiram.

Em primeiro lugar veio o governo a dizer aquilo que sendo verdade, não anima ninguém, ou seja que embora sendo más as previsões, devemos ficar satisfeitos por serem menos más que a média europeia. Pois… com o mal dos outros podemos nós bem… Mas esse é também o problema que resulta se nos limitarmos ás estatísticas… Para colocar as coisas em perspectiva, é preciso igualmente acrescentar que o nosso ponto de partida nesta crise face aos restantes países era já uns quantos furos abaixo …. E isso prende-se com os nossos problemas estruturais cuja resolução continua a ser adiada, de ano para ano, de mandato para mandato, de ciclo para ciclo …

Mas absolutamente fantástica foi a reacção da oposição em particular do PSD, nomeadamente em relação á questão do défice previsto para 2009 e 2010 (6,5% e 6,7%). Como habitualmente vieram logo a público as habituais vozes a gritar sobre os malefícios do défice, a desgraça que vem ai, e obviamente tudo isto por culpa do governo. Pois …

Só que convêm relembrar o seguinte: O mundo vive actualmente a maior e mais séria crise económica desde pelo menos a II Guerra Mundial (e vários analistas comparam-na à de 1929). A economia portuguesa fortemente dependente do exterior, não tem por si só a capacidade para alterar a situação. Quanto muito as únicas coisas que podem ser feitas neste momento são, por um lado tentar minorar os efeitos da crise junto da população mais carenciada (e isto custa muito dinheiro) procurando ganhar o tempo necessário até á retoma, e por outro lado aproveitar este momento para introduzir algumas das reformas necessárias, e que sendo embora dolorosas, talvez estejam agora criadas as condições políticas para serem feitas.

Ora para tudo isto é necessário: Por um lado, pôr de parte alguns fundamentalismos sobre a questão do défice:Na minha opinião, momentos extraordinários exigem medidas extraordinárias; E isso significa muito mais do que olhar para este momento com uma mentalidade puramente contabilística; é necessário tomar decisões, que mesmo podendo não ser as melhores devem pelo menos ser aquelas que os seus autores entendam ser as mais adequadas, mesmo que tenham custos eleitorais; E isso significa não agradar a muita gente, mas também não ceder ao populismo fácil, nomeadamente representado pelo Bloco de Esquerda.


E neste momento o governo parece estar a ceder nesta matéria (veja-se as recentes decisões sobre a tributação dos bónus dos gestores). Esperemos, para bem de todos que isto seja uma situação passageira …

Por outro lado é necessário que os maiores partidos se entendam. Não sendo um defensor do Bloco Central (que na realidade só favorece os partidos colocados nas franjas do espectro político – nomeadamente o PP e o BE), defendo há muito a necessidade de existência de um verdadeiro pacto de regime entre o PSD e o PS (e também com o PP) relativamente ás questões estruturantes da sociedade, nomeadamente as que respeitam á Saúde, á Educação e á Justiça. Para além disso é necessário neste momento que exista um entendimento muito amplo sobre as grandes questões da Economia e das Finanças Públicas.

E pouco adianta vir agora Manuela Ferreira Leite com o seu ar infeliz a dizer que ninguém a ouve, e que o governo faz só o que quer, pois o PSD quando teve a maioria absoluta ou quando esteve coligado com o PP fez exactamente o mesmo. A começar nas questões da Educação e das Finanças, onde por acaso foi ministra Manuela Ferreira Leite …

Mas ainda em relação ao défice previsto pela EU para Portugal, existe uma questão que convém lembrar: Quando falamos em 6.5% e 6,7% em 2009 e 2010 estamos realmente a falar de um valor que nos deve preocupar (embora longe dos 15% previstos para a Irlanda para 2010). No entanto este é o défice previsto em tempos da maior crise das últimas décadas. Mas como justificar o défice de 6,3% que este governo herdou no final de um ciclo de governos PSD (de onde aliás MFL foi Ministra das Finanças) numa época anterior á crise?

Ém tempos de crise, sempre se pode argumentar que o défice aumenta, mesmo que não aumente a despesa, basta que diminua a receita. E é evidente que dados os resultados muito abaixo do atingido nos anos anteriores por parte da maioria das empresas, bem como pela forte queda nas exportações, as receitas só podem mesmo cair fortemente. Por outro lado o aumento das despesas de natureza social é algo que uma sociedade solidária tem de aceitar, não se pode sequer colocar a possibilidade de cortar nesta matéria num período como o que vivemos. Logo o défice só pode tendencialmente aumentar. Resta saber em que medida aumenta, e tentar controlá-lo.

Mas como justificar esse aumento brutal do défice em momentos de não crise (pelo menos internacional) como aconteceu no final dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes? Como justificar o facto da competitividade da economia portuguesa cair sistematicamente há mais de uma década?

Não esquecendo obviamente o forte contributo dos governos de António Guterres para esta situação, o que é um facto é que o PSD esteve no governo no período pós Guterres o tempo suficiente para demonstrar que sabia como alterar a situação (essa foi aliás a esperança de muitos dos eleitores que votaram nos sociais democratas). Mas infelizmente não foi isso que aconteceu.

É por tudo isto que defendo ser essencial um acordo de regime sério entre os principais partidos para as grandes questões nacionais. Ambos os partidos, PS e PSD, já demonstraram claramente a sua total incapacidade para resolverem por si só os maiores problemas do país. Ora na ausência de capacidade de um dos partidos para resolver a situação, os cenários que restam são muito simples: Ou colocam para trás das costas os interesses partidários de curto prazo (leia-se: o período eleitoral que se aproxima) e se entendem de forma séria e construtiva dando o rumo certo ao país, ou então continuam no mesmo caminho e o resultado é óbvio: O PSD perde as eleições, o PS perde a maioria absoluta, e quem passa a mandar no Parlamento é o BE e o PCP (que juntos já representam já quase o mesmo que o PSD sozinho. E isto não acontece por mérito dos próprios…) com os custos (e os riscos) que esta situação irá potencialmente representar para Portugal e para a democracia.

O pior é que ninguém parece estar muito interessado em assumir esta realidade. É por isto que não posso estar mais de acordo com Miguel Sousa Tavares quando no seu último artigo publicado no Expresso (que abaixo reproduzo) diz, citando D. Januário Torgal Ferreira:

“(…) esta é, antes de mais, uma crise de valores éticos, de princípios de vida. E em tudo, de cima a baixo na nossa sociedade, a nossa infinita capacidade de desculpabilização e transferência de responsabilidades próprias é o rosto profundo de uma crise, muito mais do que apenas económica. “