terça-feira, 5 de maio de 2009

O Calvário Eleitoral dos portugueses

Tudo leva a crer que as eleições europeias serão o primeiro passo de uma Via Dolorosa eleitoral que o país vai atravessar até ao final de 2009. E a escolha dos cabeças-de-lista não parece indiciar nada de bom …

Comecemos pelo PS: Neste momento já ninguém parece ter grandes dúvidas que a escolha de Vital Moreira pelo PS foi o maior erro de casting que José Sócrates cometeu desde que é Primeiro-Ministro. De facto convenhamos que escolher aquele clone do Avô Cantigas, com uma capacidade de dinamizar o eleitorado quer pela imagem quer pelo discurso só comparável a Dias da Cunha, parece consubstanciar um autêntico suicido político, numas eleições que já de si convidam (infelizmente) ao absentismo, mas que podem ser cruciais para marcar o ritmos das outras que se seguem.

As prestações de Vital Moreira, que não demonstra grande vitalidade (perdoe-se a blague, que era previsível – mas irresistível!) no exercício do seu papel de candidato colocando-o a defender a Europa (logo ele que foi um dos que foi contra a adesão á CEE, mas isso claro, foram noutros tempos …) tornam ainda mais incompreensível e inaceitável a forma como foi recebido pelos militantes comunistas no 1º de Maio: Em vez de lhe atirarem com água e com latas, deviam era aplaudi-lo e mandar-lhe beijinhos por ter saído do PC …

Mas o seu melhor momento para mim até agora foi quando exigiu que o PC lhe pedisse desculpa pelas malfeitorias cometidas.


Malfeitorias? Mas alguém ainda usa essa expressão?

E depois o seu esforço em associar o ocorrido aos incidentes da Marinha Grande foi notável. E a forma como ninguém lhe deu troco sobre isso também teve a sua piada. Ele bem tentou colar-se á imagem de vítima que Soares tão bem soube explorar. Só que Mário Soares é uma raposa velha. Este, mesmo tendo sido comunista noutra encarnação (como nos parece quer fazer crer), é um menino comparado com Soares.

Malfeitorias? Mas estamos a brincar?

Quanto á autárquicas a escolha do PS recaiu (naturalmente) em António Costa. Tendo em conta que o PS já atraiu para a sua lista em Lisboa o Zé ex-Bloco de Esquerda, e também lá manteve a inefável Helena Roseta, está tudo dito … é por tudo isto que não sei se hei-de rir ou chorar quando ouço os candidatos a falarem em mudança.

Não sejamos líricos nem tomemos as pessoas por parvas: António Costa não muda nada, Pedro Santana Lopes não muda nada, tal como não mudaram coisa nenhuma quer os próprios quando lá estiveram, quer como também nada mudaram Carmona Rodrigues, ou João Soares. As únicas coisas que mudaram foram os Presidentes, os assessores e a restante entourage …

Na minha opinião só houve ao longo destes 35 anos de democracia um homem com capacidade, conhecimento e coragem para mudar Lisboa e torná-la uma cidade melhor. Mas nunca nenhum partido (dos que ganham eleições) teve a coragem para avançar com o seu nome para a presidência da Camara pois sabiam que com ele as coisas de facto mudavam. E nisso ninguém efectivamente está interessado.

Esse homem chama-se Gonçalo Ribeiro Telles.

Quanto ao Porto a escolha recaiu sobre Elisa Ferreira, que pelo que já se percebeu está muito contente por ser finalmente candidata á Câmara, mas ainda não se percebeu exactamente o que defende…

Para Sintra e em simultâneo para o Parlamento Europeu vem Ana Gomes em grande forma. Aliás acho que esta sim foi a escolha mais inteligente do PS: Ocupá-la com várias eleições, sempre permite mantê-la entretida e não discorrer sobre coisas sérias durante os próximos meses…

Restam as eleições para o Parlamento. Apesar de tudo e face á concorrência, continuo a achar que José Sócrates é o melhor deles todos. Pena é ser do PS …

Segue-se o PSD com o dinamismo que o caracteriza. Em primeiro lugar nas Europeias foi buscar para liderar a sua lista Paulo Rangel, que segundo dizem os entendidos tem como principais atributos não depender da política e ter vida própria (isso sim, é de facto positivo), e ainda o facto de ser um líder parlamentar em ascensão, que está quase, quase, a conseguir ganhar um debate a José Sócrates …

Relativamente a este candidato, a sua ideia mais interessante para apresentar ao Parlamento Europeu parece ser, segundo ontem era noticiado, a proposta de criação de uma espécie de Programa Erasmus para o emprego. Ou seja, e dito por outras palavras, vamos mas é acelerar a emigração sobretudo dos mais jovens e mais capazes que isto por aqui está bera…

(Em tempo: Parece que Paulo Rangel ficou muito enxofrado com Basílio Horta – outro monumento de coerência política … - por este ter afirmado que as medidas propostas pelo candidato do PSD ao Parlamento Europeu relativas à criação de emprego para jovens europeus "já existem". Basílio Horta afirmou que o programa Inov Contacto, destinado à mobilidade dos jovens à procura do primeiro emprego, e o programa Vasco da Gama, para colocação de empresários no estrangeiro, já estão em marcha. Então querem lá ver que a proposta inédita de Rangel ainda por cima nem sequer é original?)

Também aqui acho que se podia ter escolhido bastante melhor. No entanto se o compararmos com as escolhas sociais-democratas para as restantes eleições, este é apesar de tudo, o menos mau dos cabeças de lista do PSD.

Escolher (ou aceitar) Santana Lopes como candidato a Lisboa, marcou (e enfraqueceu) definitivamente o mandato e a imagem de MFL á frente do PSD. Para quem assentou a campanha em nome da verdade, da coerência e da competência, apresentar PSL como candidato á CML diz tudo sobre os compromissos que a política exige. É é por isso que penso que as pessoas devem, antes de falarem tanto em nome dos princípios, pensar um pouco sobre até que ponto estão dispostos a ir por eles. E é também por isso que cada vez que começo a ouvir algum político falar de coerência, desconfio… E tenho para mim que não sou o único (como diziam os Xutos).

Para o Porto a escolha recaiu na continuidade com Rui Rio (finalmente alguém capaz!), e em Sintra mantém-se de pedra e cal esse grande benfiquista, meu ex-professor na Faculdade, e futuro Presidente do Glorioso, Fernando Seara, que no meio da sua sempre muito ocupada agenda de múltiplas intervenções televisivas para falar sobre futebol, lá vai gerindo a cidade (bem melhor que o seus antecessores, diga-se de passagem).

Para terminar o passeio sobre as candidaturas do PSD ás autárquicas resta dizer que o aspecto mais positivo destas eleições é que figuras como Isaltino Morais e Valentim Loureiro continuam fora das listas do partido, graças a Marques Mendes. E em boa hora o fez, pois se Santana Lopes foi recuperado com tanta facilidade (embora, sejamos francos, tratam-se de situações completamente distintas e em nada comparáveis) caso fosse MFL já líder nessa altura, muito provavelmente veríamos agora o PSD ganhar novamente a presidência das Câmaras de Oeiras e Gondomar …

A cereja em cima do bolo dos cabeças de lista sociais-democratas termina com a própria MFL como candidata a Primeira-ministra de Portugal. Não sou daqueles que face ao desempenho de Manuela Ferreira Leite sentem saudades de Luís Filipe Meneses ou de Pedro Santana Lopes. Não; Apesar de tudo a senhora não é assim tão má…

Acho é que também aqui estamos igualmente perante um tremendo erro de casting. Sejamos claros: Independentemente do seu mérito, uma pessoa com as dificuldades de comunicação que MFL revela, e em que por cada frase que diz obriga a que se sigam 10 esclarecimentos e 10 desmentidos, quer da própria quer de terceiros, não é, não pode ser, nem aqui nem em qualquer lugar do mundo democrático, uma boa candidata a Primeiro Ministra.

Não quer isto dizer que até nem pudesse ser eficaz a chefiar um governo. Provavelmente Salazar teria perdido eleições se a sua permanência dependesse da sua oratória. No entanto quando chegou ao governo também endireitou as contas do Estado. Só que isso apenas não basta …

Para além disto, a empatia que gera com o eleitorado também deixa bastante a desejar. Ninguém retira á senhora os seus atributos de seriedade (quanto á competência e tendo em conta os resultados atingidos nas pastas que chefiou no passado isso é mais discutível).


Mas não seria melhor que no seu lugar estivesse alguém que apesar de todas as dificuldades que vivemos, nos fizesse sentir menos deprimidos cada vez que fala? Alguém que soubesse transmitir o entusiasmo necessário para ajudar o país e os portugueses a ultrapassar a crise? Alguém que abandonasse de vez em quando aquele ar de coveiro? Alguém que demonstrasse colocar efectivamente o interesse nacional sobre o interesse partidário?

Imagino o que não seria o mundo hoje em dia, se em 1940-1945, na frente de combate ao nazismo estivesse então Manuela Ferreira Leite em vez de Winston Churchill … depois das suas intervenções (que no caso de Churchill ficaram para a História – embora as de MFL também pareçam que vão ficar, mas por motivos diferentes) para além de não se perceber exactamente porque ideais combatiam os Aliados ou se a Inglaterra estaria do lados dos Aliados ou do lado do Eixo, em vez da coragem e a determinação com que os ingleses enfrentaram a ameaça totalitária, desatava toda a gente a correr para os braços do Adolfo para se animar …

Mas este é um problema que o PSD irá obviamente resolver lá mais para o final do ano… Só espero que não o agrave escolhendo Passos Coelho para a sucessão …

Depois temos os restantes candidatos às eleições europeias: Ilda Figueiredo pelo PC, e Miguel Portas pelo BE, que não trazem nada de novo. Apenas Nuno Melo parece ser uma escolha inteligente e acertada (embora as más línguas digam que é uma espécie de exílio dourado criado para quem se destacou demasiado nas comissões parlamentares. Parece que há quem não goste de sentir muita concorrência perto de si …).

Quanto ás restantes eleições e sobre estes partidos pouco mais há a acrescentar excepto ser curioso observar o que vai o BE dizer do Zé nesta campanha, depois de ter andado a pregar até á exaustão na anterior que o Zé fazia falta … Ou então ver por quem vai Manuel Monteiro candidatar-se desta vez ...

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