sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Confesso que não há nada que mais me deprima do que assistir, ainda que por uns breves momentos na televisão, aos cortejos carnavalescos que por estes dias abundam no País. Nunca os consigo ver por muito tempo, e deslocar-me pessoalmente a um desses famosos "Carnavais á portuguesa" está fora de questão!

Sejamos claros: Os Portugueses não são, nem um povo alegre, nem um povo sorridente, nem sequer um povo com sentido de humor. E muito menos são expontâneos. Ou seja, nada daquilo que faz a essência do Carnaval, faz parte da nossa natureza.

Somos um povo de poetas que enaltece a desgraça e o infortúnio, torturados pela angústia pela dor e pela miséria, que tem o fado como canção nacional e cujos expoentes máximos do humor em 9 Séculos de história foram o António Silva nos anos 40 e o Herman José nos anos 80. Convenhamos que é pouco …

Isto não é bom nem é mau. Cada um nasce para o que nasce, e é o que é. O problema é o que resulta quando queremos importar á força tradições que pouco tem a ver connosco (qualquer dia falaremos sobre os estudantes universitários que se arrastam qual corvos de capa e batina, pelas ruas de Lisboa …).

A alegria e a expontaneidade única que o Carnaval brasileiro tem, o ritmo natural quando dançam, a beleza única da mulher brasileira, tudo isso é substituído em terras lusas por meia dúzia de carros alegóricos pobremente decorados, com uma musica de fundo que nem se percebe, um conjunto de cartazes que na melhor das hipóteses é composto por ditos de baixo nível, e habitualmente com graçolas a roçar a ordinarice, e encimados por um bando de meninas que agitam à força mas sem pinga de ritmo, os seus corpos, regra geral já com alguns quilos a mais e com alguns centímetros a menos.

Para se ter uma ideia do que move os portugueses para estes desfiles basta ouvir o presidente da Câmara Municipal de Torres ao considerar que o Carnaval da cidade foi um sucesso porque 15.000 pessoas se deslocaram á cidade basicamente para ver as mamocas ao léu que apareciam no écran do portátil Magalhães que fazia parte de um dos carros alegóricos, e que esteve no centro de uma polémica com o Ministério Público. Isto diz tudo sobre os visitantes e os visitados …

Mas a cereja em cima do bolo dos corsos carnavalescos que atravessam o nosso país por estes dias, é a presença constante dos homens que se vestem de mulher, aproveitando esta época para sair do armário. É vê-los saltitar pela rua, abanando-se alegremente, para perceber o quão Freud ainda se mantém tão actual.
A este propósito um dos canais de televisão transmitiu há dias o seguinte diálogo entre uma jornalista destacada para a cobertura do cortejo e uma dessas figuras que se agitava pesadamente à sua frente.
Perguntava a jornalista:
- “Então, porque é que está mascarado assim”?
- “Porque gosto” retorquia. “Atiram-me bocas” continuava o personagem mantendo a profundidade que habitualmente estes diálogos contêm.
- “ E o que lhe dizem?” inquiria curiosa a jovem
- “Boazona” ! Afirmava com voz cava o moço
- “E gosta”? continuava ela
- “Adoro”! concluía o pequeno
Enfim …
Querer transpor para Portugal o Carnaval brasileiro só não é mais ridículo porque acaba por ser confrangedor ver os participantes do desfile a bater o queixo de frio querendo convencer-se (e convencer-nos) que Fevereiro em Torres Vedras ou em Loulé é mais ou menos o mesmo que no Rio de Janeiro ou em São Paulo…
Bem mais inteligentes são os alemães e os italianos, que também celebram o Carnaval. Mas agasalhados. O Carnaval de Veneza é dos mais bonitos e originais do mundo. E também dos mais tapadinhos. E já que estámos na Europa e não no Brasil (infelizmente), que bem que deve saber tanta roupinha nestes dias frios de Inverno …

Sem comentários:

Enviar um comentário