terça-feira, 26 de maio de 2009
Está tudo doido ...
A canção Garagem da Vizinha, de Quim Barreiros, foi considerada imprópria pelo Conselho Executivo de uma escola da Azambuja, que impediu os alunos de a passarem na rádio do estabelecimento, escreve o Correio da Manhã
«Uma professora de Educação Musical achou que a letra da música não era adequada para o intervalo da manhã dos alunos do primeiro ciclo», explicou o vice-presidente do Conselho Executivo ao CM.
Depois de a direcção falar com os alunos, a música foi retirada do ar «uma vez que não estava inserida em nenhuma programação especial».
A decisão não agradou a todos e muitos encarregados de educação consideram a decisão um acto de censura inadmissível.
In SOL online
De facto vivemos tempos extraordinários … Como se pode ler na notícia publicada edição online do “Sol”, parece que houve muitos encarregados de Educação de alunos do primeiro ciclo (ou seja de crianças entre os 6 e os 10 anos) que acharam a decisão de proibir a passagem desta canção do Quim Barreiros (essa grande referência da cultura tuga) na rádio da escola que os filhos frequentam, “um acto de censura inadmissível”!
Mas está tudo parvo ???? Alguém em seu perfeito juízo pode achar que as musicas do Quim Barreiros são adequadas para passar nas rádios escolares (ainda para mais do 1º Ciclo) ?
Estes encarregados de "educação" ainda devem sofrer do trauma do anti-fascismo ... Só falta mesmo Manuel Alegre opinar sobre o tema ...
Para que não haja dúvidas que a decisão tomada pela escola foi correcta, abaixo se transcreve a letra da canção:
A Garagem Da Vizinha
Lá na rua onde eu moro, conheci uma vizinha
Separada do marido está morando sozinha
Além dela ser bonita é um poço de bondade
Vendo meu carro na chuva ofereceu sua garagem!
Ela disse: ninguém usa desde que ele me deixou!
Dentro da minha garagem teias de aranha juntou!
Põe teu carro aqui dentro, se não vai enferrujar!
A garagem é usada mas teu carro vai gostar!
Refrão:
Ponho o carro, tiro o carro, há hora que eu quiser
Que garagem apertadinha, que doçura de mulher
Tiro cedo e ponho à noite, e às vezes à tardinha
Estou até mudando o óleo na garagem da vizinha!
Só que o meu possante carro, tem um bonito atrelado,
Que eu uso pra vender cocos e ganhar mais um trocado
A garagem é pequena, o que é que eu faço agora?
O meu carro fica dentro, os cocos ficam de fora!
A minha vizinha é boa, da garagem vou cuidar
Na porta mato cresceu, dei um jeito de cortar!
A bondade da vizinha, é coisa de outro mundo
Quando não uso a da frente, uso a garagem do fundo!
domingo, 10 de maio de 2009
A hora do balanço
«O que me dói é termos menos pontos do que prevíamos e que a equipa estava preparada para ter. A estatística não interessa, não importa se temos mais posse de bola, mais remates, o que dói é saber que somos capazes e não conseguirmos exercer essa superioridade sobre os adversários», disse o técnico, em conferência de imprensa.
Admitindo a falta de «oito pontos», Quique Flores, evocando o piloto de Fórmula 1 Fernando Alonso, reconheceu ter «faltado motor» aos «encarnados»: «não sei se por sorte, coragem, determinação, qualquer coisa a mais que se exige a uma grande equipa».
sexta-feira, 8 de maio de 2009
O Pai Tirano
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Os 3 Estarolas
Lembrei-me deles, a propósito da recente polémica da papa Maizena que envolveu Basílio Horta, Paulo Rangel e Manuel Pinho, e onde estamos perante mais uma situação pré-eleitoral onde 3 candidatos concorrem ao prémio do maior disparate:
Comecemos por Basílio Horta,: De facto não lhe compete comentar as propostas dos candidatos, a não ser que seja questionado directamente sobre o tema e nesse caso deve limitar-se a ser factual. E nesse aspecto Paulo Rangel tem razão. Mas como de vez em quando parece que é preciso justificar a nomeação, lá se ajeitou para o frete… E acabou por mandar ás urtigas definitivamente qualquer dignidade relativamente ao cargo que ocupa, quando respondeu directamente a Paulo Rangel acusando-o de ignorância e arrogância.
É uma pena Basílio Horta não manifestar a mesma capacidade de resposta na captação de investimento estrangeiro para Portugal nestes tempos difíceis … em vez de andar a comentar candidatos ou a desabafar que já não sabe o que se há-de fazer para ultrapassar a crise...
Passemos a Paulo Rangel: começou bem, quando referiu que o papel do Presidente da AICEP não é comentar as propostas dos candidatos. A partir de ai, embalado nas suas palavras desatou a disparar em todas as direcções e ao querer menorizar Basílio Horta considerando-o um mero funcionário, ao afirmar que estava habituado a ser comentado apenas por ministros, bem como ao intitular as medidas existentes como "programinhas da AICEP" acabou por perder qualquer razão que pudesse ter e acabou também por se tornar ridículo.
Por fim entra Manuel Pinho: A refrescante entrada de Pinho é sempre bem vinda em qualquer polémica, pois habitualmente a sua presença acrescenta um toque de humor e boa disposição que normalmente ainda não está presente na discussão … E que não se pense que esta característica de Pinho é algo que só os seus adversários lhe apontam. Não, mesmo os que gostam dele não resistem a utilizá-lo para uma boa piada.
Ainda está certamente na imagem de todos a forma como Hugo Chavez lhe dedicou (bem como ao Ministro das Obras Públicas), uma canconeta em plena conferência de imprensa em Lisboa: Pinho e Lino, Lino e Pinho, Pino e Lino, Linho e Pino…
Vai dai Pinho decide entrar na refrega e igualmente entusiasmado pelas suas palavras deixa-se arrastar pelos seus aparentemente parcos conhecimentos de culinária e puericultura, confunde Maizena com Cerelac (como muito bem nota o jornal “Público”) e desata igualmente a disparar sobre Rangel Paulo incentivando-o a "comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares de Basílio Horta".
Depois, ou porque alguém lhe disse alguma coisa, ou porque se lembrou de MFL, veio esclarecer o que tinha dito dois dias antes (se a moda pega vai ser bonito): Afinal respeita muito Rangel, gosta mesmo dele, apenas acha que ainda não chega mesmo aos calcanhares de Basílio Horta (esse outro monumento de coerência política) …
Rangel por seu lado, sentindo que está a perder 1-0 no campeonato da vitimização face a Vital Moreira, aproveitou a oportunidade, e colocando igualmente um ar de vítima queixou-se de agressões verbais (á falta de uns empurrões ou de umas garrafas de água como o seu adversário) e diz também que lhe chamaram nomes feios …
Conseguindo ser o Ministro que mais gaffes produz, isso não é para Pinho razão suficiente para só falar quando lhe perguntam alguma coisa...não; Mesmo não sendo solicitado para isso, Manuel Pinho também gosta de dar a sua opinião. E isso percebe-se até porque relativamente á pasta que ocupa, na realidade ninguém lhe pergunta coisa nenhuma. Isso é aliás uma das razões que o tornam uma personagem ainda mais interessante nestes tempos difíceis, pois é um mistério perceber porquê que ninguém está realmente muito interessado em saber o que pensa o Ministro da Economia …
Por tudo isso, o prémio vai direitinho para Manuel Pinho.
terça-feira, 5 de maio de 2009
O Calvário Eleitoral dos portugueses
Comecemos pelo PS: Neste momento já ninguém parece ter grandes dúvidas que a escolha de Vital Moreira pelo PS foi o maior erro de casting que José Sócrates cometeu desde que é Primeiro-Ministro. De facto convenhamos que escolher aquele clone do Avô Cantigas, com uma capacidade de dinamizar o eleitorado quer pela imagem quer pelo discurso só comparável a Dias da Cunha, parece consubstanciar um autêntico suicido político, numas eleições que já de si convidam (infelizmente) ao absentismo, mas que podem ser cruciais para marcar o ritmos das outras que se seguem.
As prestações de Vital Moreira, que não demonstra grande vitalidade (perdoe-se a blague, que era previsível – mas irresistível!) no exercício do seu papel de candidato colocando-o a defender a Europa (logo ele que foi um dos que foi contra a adesão á CEE, mas isso claro, foram noutros tempos …) tornam ainda mais incompreensível e inaceitável a forma como foi recebido pelos militantes comunistas no 1º de Maio: Em vez de lhe atirarem com água e com latas, deviam era aplaudi-lo e mandar-lhe beijinhos por ter saído do PC …
Mas o seu melhor momento para mim até agora foi quando exigiu que o PC lhe pedisse desculpa pelas malfeitorias cometidas.
Malfeitorias? Mas alguém ainda usa essa expressão?
E depois o seu esforço em associar o ocorrido aos incidentes da Marinha Grande foi notável. E a forma como ninguém lhe deu troco sobre isso também teve a sua piada. Ele bem tentou colar-se á imagem de vítima que Soares tão bem soube explorar. Só que Mário Soares é uma raposa velha. Este, mesmo tendo sido comunista noutra encarnação (como nos parece quer fazer crer), é um menino comparado com Soares.
Malfeitorias? Mas estamos a brincar?
Quanto á autárquicas a escolha do PS recaiu (naturalmente) em António Costa. Tendo em conta que o PS já atraiu para a sua lista em Lisboa o Zé ex-Bloco de Esquerda, e também lá manteve a inefável Helena Roseta, está tudo dito … é por tudo isto que não sei se hei-de rir ou chorar quando ouço os candidatos a falarem em mudança.
Não sejamos líricos nem tomemos as pessoas por parvas: António Costa não muda nada, Pedro Santana Lopes não muda nada, tal como não mudaram coisa nenhuma quer os próprios quando lá estiveram, quer como também nada mudaram Carmona Rodrigues, ou João Soares. As únicas coisas que mudaram foram os Presidentes, os assessores e a restante entourage …
Na minha opinião só houve ao longo destes 35 anos de democracia um homem com capacidade, conhecimento e coragem para mudar Lisboa e torná-la uma cidade melhor. Mas nunca nenhum partido (dos que ganham eleições) teve a coragem para avançar com o seu nome para a presidência da Camara pois sabiam que com ele as coisas de facto mudavam. E nisso ninguém efectivamente está interessado.
Esse homem chama-se Gonçalo Ribeiro Telles.
Quanto ao Porto a escolha recaiu sobre Elisa Ferreira, que pelo que já se percebeu está muito contente por ser finalmente candidata á Câmara, mas ainda não se percebeu exactamente o que defende…
Para Sintra e em simultâneo para o Parlamento Europeu vem Ana Gomes em grande forma. Aliás acho que esta sim foi a escolha mais inteligente do PS: Ocupá-la com várias eleições, sempre permite mantê-la entretida e não discorrer sobre coisas sérias durante os próximos meses…
Restam as eleições para o Parlamento. Apesar de tudo e face á concorrência, continuo a achar que José Sócrates é o melhor deles todos. Pena é ser do PS …
Segue-se o PSD com o dinamismo que o caracteriza. Em primeiro lugar nas Europeias foi buscar para liderar a sua lista Paulo Rangel, que segundo dizem os entendidos tem como principais atributos não depender da política e ter vida própria (isso sim, é de facto positivo), e ainda o facto de ser um líder parlamentar em ascensão, que está quase, quase, a conseguir ganhar um debate a José Sócrates …
Relativamente a este candidato, a sua ideia mais interessante para apresentar ao Parlamento Europeu parece ser, segundo ontem era noticiado, a proposta de criação de uma espécie de Programa Erasmus para o emprego. Ou seja, e dito por outras palavras, vamos mas é acelerar a emigração sobretudo dos mais jovens e mais capazes que isto por aqui está bera…
(Em tempo: Parece que Paulo Rangel ficou muito enxofrado com Basílio Horta – outro monumento de coerência política … - por este ter afirmado que as medidas propostas pelo candidato do PSD ao Parlamento Europeu relativas à criação de emprego para jovens europeus "já existem". Basílio Horta afirmou que o programa Inov Contacto, destinado à mobilidade dos jovens à procura do primeiro emprego, e o programa Vasco da Gama, para colocação de empresários no estrangeiro, já estão em marcha. Então querem lá ver que a proposta inédita de Rangel ainda por cima nem sequer é original?)
Também aqui acho que se podia ter escolhido bastante melhor. No entanto se o compararmos com as escolhas sociais-democratas para as restantes eleições, este é apesar de tudo, o menos mau dos cabeças de lista do PSD.
Escolher (ou aceitar) Santana Lopes como candidato a Lisboa, marcou (e enfraqueceu) definitivamente o mandato e a imagem de MFL á frente do PSD. Para quem assentou a campanha em nome da verdade, da coerência e da competência, apresentar PSL como candidato á CML diz tudo sobre os compromissos que a política exige. É é por isso que penso que as pessoas devem, antes de falarem tanto em nome dos princípios, pensar um pouco sobre até que ponto estão dispostos a ir por eles. E é também por isso que cada vez que começo a ouvir algum político falar de coerência, desconfio… E tenho para mim que não sou o único (como diziam os Xutos).
Para o Porto a escolha recaiu na continuidade com Rui Rio (finalmente alguém capaz!), e em Sintra mantém-se de pedra e cal esse grande benfiquista, meu ex-professor na Faculdade, e futuro Presidente do Glorioso, Fernando Seara, que no meio da sua sempre muito ocupada agenda de múltiplas intervenções televisivas para falar sobre futebol, lá vai gerindo a cidade (bem melhor que o seus antecessores, diga-se de passagem).
Para terminar o passeio sobre as candidaturas do PSD ás autárquicas resta dizer que o aspecto mais positivo destas eleições é que figuras como Isaltino Morais e Valentim Loureiro continuam fora das listas do partido, graças a Marques Mendes. E em boa hora o fez, pois se Santana Lopes foi recuperado com tanta facilidade (embora, sejamos francos, tratam-se de situações completamente distintas e em nada comparáveis) caso fosse MFL já líder nessa altura, muito provavelmente veríamos agora o PSD ganhar novamente a presidência das Câmaras de Oeiras e Gondomar …
A cereja em cima do bolo dos cabeças de lista sociais-democratas termina com a própria MFL como candidata a Primeira-ministra de Portugal. Não sou daqueles que face ao desempenho de Manuela Ferreira Leite sentem saudades de Luís Filipe Meneses ou de Pedro Santana Lopes. Não; Apesar de tudo a senhora não é assim tão má…
Acho é que também aqui estamos igualmente perante um tremendo erro de casting. Sejamos claros: Independentemente do seu mérito, uma pessoa com as dificuldades de comunicação que MFL revela, e em que por cada frase que diz obriga a que se sigam 10 esclarecimentos e 10 desmentidos, quer da própria quer de terceiros, não é, não pode ser, nem aqui nem em qualquer lugar do mundo democrático, uma boa candidata a Primeiro Ministra.
Não quer isto dizer que até nem pudesse ser eficaz a chefiar um governo. Provavelmente Salazar teria perdido eleições se a sua permanência dependesse da sua oratória. No entanto quando chegou ao governo também endireitou as contas do Estado. Só que isso apenas não basta …
Para além disto, a empatia que gera com o eleitorado também deixa bastante a desejar. Ninguém retira á senhora os seus atributos de seriedade (quanto á competência e tendo em conta os resultados atingidos nas pastas que chefiou no passado isso é mais discutível).
Mas não seria melhor que no seu lugar estivesse alguém que apesar de todas as dificuldades que vivemos, nos fizesse sentir menos deprimidos cada vez que fala? Alguém que soubesse transmitir o entusiasmo necessário para ajudar o país e os portugueses a ultrapassar a crise? Alguém que abandonasse de vez em quando aquele ar de coveiro? Alguém que demonstrasse colocar efectivamente o interesse nacional sobre o interesse partidário?
Imagino o que não seria o mundo hoje em dia, se em 1940-1945, na frente de combate ao nazismo estivesse então Manuela Ferreira Leite em vez de Winston Churchill … depois das suas intervenções (que no caso de Churchill ficaram para a História – embora as de MFL também pareçam que vão ficar, mas por motivos diferentes) para além de não se perceber exactamente porque ideais combatiam os Aliados ou se a Inglaterra estaria do lados dos Aliados ou do lado do Eixo, em vez da coragem e a determinação com que os ingleses enfrentaram a ameaça totalitária, desatava toda a gente a correr para os braços do Adolfo para se animar …
Mas este é um problema que o PSD irá obviamente resolver lá mais para o final do ano… Só espero que não o agrave escolhendo Passos Coelho para a sucessão …
Depois temos os restantes candidatos às eleições europeias: Ilda Figueiredo pelo PC, e Miguel Portas pelo BE, que não trazem nada de novo. Apenas Nuno Melo parece ser uma escolha inteligente e acertada (embora as más línguas digam que é uma espécie de exílio dourado criado para quem se destacou demasiado nas comissões parlamentares. Parece que há quem não goste de sentir muita concorrência perto de si …).
Quanto ás restantes eleições e sobre estes partidos pouco mais há a acrescentar excepto ser curioso observar o que vai o BE dizer do Zé nesta campanha, depois de ter andado a pregar até á exaustão na anterior que o Zé fazia falta … Ou então ver por quem vai Manuel Monteiro candidatar-se desta vez ...
A Previsão do défice
O que não deixa ainda de espantar um mero espectador da política nacional (como eu), é o coro de reacções que imediatamente se seguiram.
Em primeiro lugar veio o governo a dizer aquilo que sendo verdade, não anima ninguém, ou seja que embora sendo más as previsões, devemos ficar satisfeitos por serem menos más que a média europeia. Pois… com o mal dos outros podemos nós bem… Mas esse é também o problema que resulta se nos limitarmos ás estatísticas… Para colocar as coisas em perspectiva, é preciso igualmente acrescentar que o nosso ponto de partida nesta crise face aos restantes países era já uns quantos furos abaixo …. E isso prende-se com os nossos problemas estruturais cuja resolução continua a ser adiada, de ano para ano, de mandato para mandato, de ciclo para ciclo …
Mas absolutamente fantástica foi a reacção da oposição em particular do PSD, nomeadamente em relação á questão do défice previsto para 2009 e 2010 (6,5% e 6,7%). Como habitualmente vieram logo a público as habituais vozes a gritar sobre os malefícios do défice, a desgraça que vem ai, e obviamente tudo isto por culpa do governo. Pois …
Só que convêm relembrar o seguinte: O mundo vive actualmente a maior e mais séria crise económica desde pelo menos a II Guerra Mundial (e vários analistas comparam-na à de 1929). A economia portuguesa fortemente dependente do exterior, não tem por si só a capacidade para alterar a situação. Quanto muito as únicas coisas que podem ser feitas neste momento são, por um lado tentar minorar os efeitos da crise junto da população mais carenciada (e isto custa muito dinheiro) procurando ganhar o tempo necessário até á retoma, e por outro lado aproveitar este momento para introduzir algumas das reformas necessárias, e que sendo embora dolorosas, talvez estejam agora criadas as condições políticas para serem feitas.
Ora para tudo isto é necessário: Por um lado, pôr de parte alguns fundamentalismos sobre a questão do défice:Na minha opinião, momentos extraordinários exigem medidas extraordinárias; E isso significa muito mais do que olhar para este momento com uma mentalidade puramente contabilística; é necessário tomar decisões, que mesmo podendo não ser as melhores devem pelo menos ser aquelas que os seus autores entendam ser as mais adequadas, mesmo que tenham custos eleitorais; E isso significa não agradar a muita gente, mas também não ceder ao populismo fácil, nomeadamente representado pelo Bloco de Esquerda.
E neste momento o governo parece estar a ceder nesta matéria (veja-se as recentes decisões sobre a tributação dos bónus dos gestores). Esperemos, para bem de todos que isto seja uma situação passageira …
Por outro lado é necessário que os maiores partidos se entendam. Não sendo um defensor do Bloco Central (que na realidade só favorece os partidos colocados nas franjas do espectro político – nomeadamente o PP e o BE), defendo há muito a necessidade de existência de um verdadeiro pacto de regime entre o PSD e o PS (e também com o PP) relativamente ás questões estruturantes da sociedade, nomeadamente as que respeitam á Saúde, á Educação e á Justiça. Para além disso é necessário neste momento que exista um entendimento muito amplo sobre as grandes questões da Economia e das Finanças Públicas.
E pouco adianta vir agora Manuela Ferreira Leite com o seu ar infeliz a dizer que ninguém a ouve, e que o governo faz só o que quer, pois o PSD quando teve a maioria absoluta ou quando esteve coligado com o PP fez exactamente o mesmo. A começar nas questões da Educação e das Finanças, onde por acaso foi ministra Manuela Ferreira Leite …
Mas ainda em relação ao défice previsto pela EU para Portugal, existe uma questão que convém lembrar: Quando falamos em 6.5% e 6,7% em 2009 e 2010 estamos realmente a falar de um valor que nos deve preocupar (embora longe dos 15% previstos para a Irlanda para 2010). No entanto este é o défice previsto em tempos da maior crise das últimas décadas. Mas como justificar o défice de 6,3% que este governo herdou no final de um ciclo de governos PSD (de onde aliás MFL foi Ministra das Finanças) numa época anterior á crise?
Ém tempos de crise, sempre se pode argumentar que o défice aumenta, mesmo que não aumente a despesa, basta que diminua a receita. E é evidente que dados os resultados muito abaixo do atingido nos anos anteriores por parte da maioria das empresas, bem como pela forte queda nas exportações, as receitas só podem mesmo cair fortemente. Por outro lado o aumento das despesas de natureza social é algo que uma sociedade solidária tem de aceitar, não se pode sequer colocar a possibilidade de cortar nesta matéria num período como o que vivemos. Logo o défice só pode tendencialmente aumentar. Resta saber em que medida aumenta, e tentar controlá-lo.
Mas como justificar esse aumento brutal do défice em momentos de não crise (pelo menos internacional) como aconteceu no final dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes? Como justificar o facto da competitividade da economia portuguesa cair sistematicamente há mais de uma década?
Não esquecendo obviamente o forte contributo dos governos de António Guterres para esta situação, o que é um facto é que o PSD esteve no governo no período pós Guterres o tempo suficiente para demonstrar que sabia como alterar a situação (essa foi aliás a esperança de muitos dos eleitores que votaram nos sociais democratas). Mas infelizmente não foi isso que aconteceu.
É por tudo isto que defendo ser essencial um acordo de regime sério entre os principais partidos para as grandes questões nacionais. Ambos os partidos, PS e PSD, já demonstraram claramente a sua total incapacidade para resolverem por si só os maiores problemas do país. Ora na ausência de capacidade de um dos partidos para resolver a situação, os cenários que restam são muito simples: Ou colocam para trás das costas os interesses partidários de curto prazo (leia-se: o período eleitoral que se aproxima) e se entendem de forma séria e construtiva dando o rumo certo ao país, ou então continuam no mesmo caminho e o resultado é óbvio: O PSD perde as eleições, o PS perde a maioria absoluta, e quem passa a mandar no Parlamento é o BE e o PCP (que juntos já representam já quase o mesmo que o PSD sozinho. E isto não acontece por mérito dos próprios…) com os custos (e os riscos) que esta situação irá potencialmente representar para Portugal e para a democracia.
O pior é que ninguém parece estar muito interessado em assumir esta realidade. É por isto que não posso estar mais de acordo com Miguel Sousa Tavares quando no seu último artigo publicado no Expresso (que abaixo reproduzo) diz, citando D. Januário Torgal Ferreira:
“(…) esta é, antes de mais, uma crise de valores éticos, de princípios de vida. E em tudo, de cima a baixo na nossa sociedade, a nossa infinita capacidade de desculpabilização e transferência de responsabilidades próprias é o rosto profundo de uma crise, muito mais do que apenas económica. “
Download ou não download, eis a questão
Em Portugal, a violação de direitos de autor pode ser penalizada com uma pena de prisão até três anos. Mas o que está a ser debatido em França é inédito por se dirigir aos utilizadores finais e não aos fornecedores de acesso à Internet ou os promotores de sites de downloads ilegais.
Sem querer entrar nessa discussão, parece-me no entanto importante que se tenha presente neste debate a questão de saber porque se fazem tantos downloads ilegais. Claro que é aborrecido e faz-nos sentir mal cada vez que abrimos um DVD termos de gramar com aquela habitual cena do individuo a roubar nas lojas, a roubar um televisor pela janela e a roubar um carro, para depois nos fazerem sentir culpados perguntando se nós também roubariamos … certo…
No entanto esta discussão lembra-me um pouco a discussão de há uns anos atrás sobre se os hipermercados deveriam ou não abrir ao domingo por causa do comércio tradicional.
Tendencialmente até gosto mais do comércio tradicional e prefiro ir a uma pequena loja de bairro do que a uma grande superfíce onde sou apenas mais um entre centenas de clientes. Mas a questão não é esta. A questão era, para quem esteja lembrado, a seguinte: Diziam os defensores do encerramento: Os hipermercados tem de estar fechados ao Domingo para proteger o comércio tradicional”. E então os utentes respondiam: “Ok, certo, fechem os hipermercados e digam lá onde estão as lojas tradicionais abertas para nos podermos abastecer, pois só neste dia é que podemos fazer as compras”. Ai a resposta era “Ao domingo é que não pode ser, que estamos fechados para descansar, e além disso não podemos pagar os encargos aos funcionários” … Ou seja, quem se lixou foi novamente o consumidor, que passou a pagar mais caro os bens que necessita nos supermercados (que pela sua menor dimensão podem estar abertos), enquanto os hipermercados e o comércio tradicional se mantem fechados …
A discussão dos downloads é a mesma. Como não acredito que toda a gente esteja disposta a cometer malfeitorias (como diria Vital Moreira …) se calhar o que o consumidor gostaria de ter acesso era a sites onde, pagando um preço justo, fosse possível descarregar os conteúdos que pretende. Pois, mas a isso a resposta a esta questão é… Não existem (pelo menos com a dimensão e a actualidade da oferta disponivel nos sites não autorizados - parece-me mais simpático classificá-los assim …)
Se calhar seria mesmo por ai que se devia começar, sobretudo num momento em que cada vez mais, fruto do desenvolvimento tecnológico e das comunicações, é mais fácil descarregar conteúdos pela internet.
A este propósito aqui fica um texto, enviado pelo meu amigo Luis Pedro, que ilustra bem esta questão:
If you can't buy it legally, of course you'll download it
Naomi Alderman guardian.co.uk, Tuesday 5 May 2009
As someone who produces copyrighted content, I suppose I should be cheering at the Pirate Bay verdict. Or perhaps, as someone who wants to get the latest episodes of my favourite show quickly, I should be angry about it. That's the trouble with the current system of distribution and copyright enforcement: it sets content producers and fans against each other. There was a time when the system worked. From the earliest days of cinema, a system of staggered worldwide releases of Hollywood movies developed. It made sense: there were only a certain number of prints and it took time to ship them across the world. Nick James, editor of the British Film Institute's magazine Sight and Sound, told me that in the 1970s you could sometimes wait two years to see a Hollywood film in the UK. And 30 years ago that was alright. The markets really were separate. How would the average person in the UK even hear about the latest movies or TV shows on the US? You could run a five-year-old US TV show, call it brand new and very few people would be any the wiser. It felt natural for the same system to extend to videos and DVDs. But it's not alright anymore. Here's why: the markets for legitimate purchase are still separate, but the marketing is not. The web is, as the name suggests, worldwide, and if you're advertising your great new movie or TV show on the New York Times website, or Salon magazine or in Gmail banner ads, you're advertising it to the world. Advertisers are very good at their jobs. They know how to tease and persuade, to push the buttons that get us to buy things; even things that we know are bad for us. It's not that we're entirely helpless in the face of advertising. Of course it's possible to see an ad for something you really want and still not buy it. But we find it difficult; that's the whole point of advertising. And if you're advertising a movie or a TV show, but not giving people the opportunity to buy it legally, what do you think is going to happen? You're working against yourself: with one breath saying "look at this wonderful product, don't you want it?" and with the next saying "you can't have it at any price". People who download illegally aren't people who hate the product. They're fans. Of course there are some people who would never pay a penny for it, no matter how cheaply or easily available it was. But there are many who, like me, just want to enjoy a TV show they've seen advertised. It's time for staggered releases to end. Every day they continue, more people, tired of seeing adverts and reviews of shows and movies they won't be able to buy legitimately for months or years, call up a techie friend and say "that torrenting thing, how do you do that?" Every day these shows and movies aren't available to buy, worldwide, on the same day, for a reasonably equivalent price, more people are finding out how to get them for nothing. And once they're used to doing it that way, it's going to be harder than ever to get them back.
Sozinhos na aldeia
Sozinhos na aldeia
Miguel Sousa Tavares
Não sei se se lembrarão, como eu me lembro, das peripécias da inauguração da nova Aldeia da Luz - reconstruída num perfeito decalque da anterior, soterrada nas águas de Alqueva, sete anos atrás. Mas vale a pena começar por lembrar a história. Depois de anos a ser incomodado com o grito do "Construam-me, porra!", o poder político resolveu enfim acabar o projecto de Alqueva, o mais caro projecto de obra pública de sempre, construído ao arrepio da opinião de quem avisava de que, mais racional, mais útil e mais económico do que construir a maior barragem da Europa, seria edificar uma série de pequenas barragens vocacionadas para a agricultura e capazes de fixar populações, defendendo a manutenção do mundo rural. Mas, não, Alqueva é que era: iria irrigar 120.000 hectares, transformando a margem esquerda do Guadiana num imenso regadio, no verdadeiro paraíso de que fala o Corão, acabando com a desertificação, a falta de perspectivas e aquelas dramáticas photo-opportunities das vacas mortas de sede, que tanto impressionavam os jornalistas e aterrorizavam os políticos. Fez-se então Alqueva - que nós, cada um de nós que pagamos impostos, pagou forte e feio do seu bolso. E o que sucedeu depois? Sucedeu que os donos das terras correram a vendê-las aos espanhóis, declarando que isso do regadio era uma ciência muito complicada, e assim realizando extraordinárias mais-valias à custa do esforço dos contribuintes que havia transformado em terras férteis o que antes era um deserto de pó e calhaus, herdado de geração em geração. Eles, os donos das terras, mudaram o "porra!" para "uff!", e os outros, os pobres, ficaram à espera que o prometido paraíso lhes desaguasse então, sem mais, à porta de casa. Rapidamente, se mudou de paradigma: "Esqueçam a agricultura, isso dá trabalho e é mais caro do que comprar aos espanhóis. Vamos é encher isto de urbanizações e aldeias turísticas (25.000 camas), campos de golfe e, claro, a indispensável componente ecológica". E os pobres continuaram sentados à espera, enquanto os ricos faziam contas a novas mais-valias. E os contribuintes aí estão para mais investimentos, porque afinal não bastou cumprir o "porra!", ainda vai ser preciso pagar o inevitável "emporra!". Voltando atrás, lembro-me então das reportagens televisivas da inauguração da nova Aldeia da Luz. Julgava eu (julgávamos todos) que as televisões iriam encontrar uma população agradecida pelo esforço financeiro e atenção de que tinha sido alvo por parte do poder público. Em lugar de, como seria normal e decorre da lei, terem sido alvo de um simples processo de expropriação por utilidade pública (com o Estado a pagar-lhes o valor das suas casas, que era nada), os habitantes da Luz foram adoptados como caso exemplar de bom tratamento para o mundo inteiro: o Estado reconstruiu-lhes a aldeia a poucos quilómetros de distância, tal qual ela era, cemitério incluído, mas com a diferença de que agora tudo o que eram infra-estruturas - de água, electricidade, esgotos - era novo, impecável e jamais visto antes. As casas eram novas e feitas para durar, as ruas estavam pavimentadas de forma irrepreensível, fizeram-se jardins e espaços públicos como eles nunca tinham sonhado... e tinham o lago aos pés. Dez milhões de euros foram investidos para tal, 125.000 por cada um dos 400 habitantes da aldeia- mais, muito mais, do que aquilo que eles, em várias vidas, pagariam ao Estado em impostos. Estavam, pois, agradecidos? Qual quê! Nunca mais me hei-de esquecer da senhora que reclamava porque na outra aldeia não tinha degraus de acesso à casa e agora tinha dois, ou da outra que se queixava porque os azulejos da cozinha não eram exactamente iguais aos da casa antiga. Mas o que mais me chamou a atenção foi a atitude comum dos habitantes interrogados: "Sim, fizeram a barragem, fizeram a nova aldeia. Agora vamos ver se chega aí o tal progresso que prometeram". Foi exactamente assim em Foz Côa, onde a demagogia de um governo socialista acabado de tomar posse e de alguns meios pretensamente intelectuais e 'científicos' impediu a construção de uma barragem necessária, forçando a sua deslocação para outro local onde vai destruir um rio e um ecossistema muito mais precioso do que as gravuras supostamente paleolíticas de Foz Côa. Mas também os habitantes de Foz Côa, decerto atordoados pela onda de atenções bem-pensantes de que se viram alvo, ficaram à espera que a fortuna lhes caísse aos pés porque os seus antepassados terão andado por ali há uns milhares de anos a fazer uns rabiscos nas pedras, de que eles, ao que parece, esperavam viver e usufruir hoje e para sempre. Assim, sem mais, sentados a ver passar os milhares de turistas que lhes prometeram que iriam desaguar no pomposamente chamado Parque Paleolítico do Côa. Na Aldeia da Luz ou na aldeia da Estrela, também em Alqueva, não há esse cluster paleolítico para atrair as atenções. Mas há o "porra!" ali aos pés, o prometido Amazonas por onde o El Dorado lhes chegaria sem sequer terem de se incomodar a procurá-lo. Outra vez: esqueçam a agricultura, que dá muito trabalho. Nem uma só voz se levantou até agora no Alentejo contra a recente derrogação da lei de protecção à RAN (Reserva Agrícola Nacional), com que o Governo capitulou definitivamente perante os interesses imobiliários especulativos, abrindo as portas à vandalização dos melhores terrenos agrícolas do país. Não, ali o que se pretende é exactamente isso: como explicava uma reportagem do "Público" esta semana, "em lugar do anunciado progresso sob a forma de grandes projectos turísticos que prometiam levar à pequena aldeia (da Estrela), o bem-estar sob a forma de emprego seguro em lugar do incerto e duro trabalho sazonal na agricultura, o mais que conseguiram foi um cais para os barcos atracarem". Pois, mas até o cais não aproveita, porque lá desagua o esgoto da aldeia e estão à espera que lhes façam uma fossa séptica. Da mesma forma que se queixam de que a empresa pública de Alqueva arranjou o telhado e o exterior da igreja, mas "deixou o interior sujo e com obras por acabar" e eles têm de ir rezar para outro lado. Desculpem se as perguntas ofendem: os habitantes destas aldeias, que estão sentados à espera que o "progresso" chegue, não podem limpar eles a igreja? Não podem construir uma fossa séptica para se livrarem dos próprios esgotos? Não podem aproveitar o cais que lhes fizeram para um clube náutico? Não podem fazer um clube de pesca, um bom restaurante, um pequeno museu de artesanato, lojas de produtos biológicos e enchidos locais, um clube de férias para crianças, uma pequena pousada a explorar por todos - qualquer coisa que não seja esperar por um "emprego seguro" como recepcionistas dos eco-resorts and spa que os patos-bravos lhes hão-de fazer à porta? Parece que não: aqui não chegou a crise. Nós somos bons é em esperar que os outros façam por nós e reclamar se eles não fazem. Tudo nos é devido, nada nos é exigível, nem que seja para nosso próprio interesse. Não temos a noção anglo-saxónica do pay-back: "se recebes, dás; se queres receber, tens de dar". É por isso que não sairemos tão depressa da crise. Porque, como disse há dias D. Januário Torgal Ferreira, esta é, antes de mais, uma crise de valores éticos, de princípios de vida. E em tudo, de cima a baixo na nossa sociedade, a nossa infinita capacidade de desculpabilização e transferência de responsabilidades próprias é o rosto profundo de uma crise, muito mais do que apenas económica.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Grécia - Memórias de um tempo que finda ...
Com um porto fantástico que nos recebe logo á chegada, a ilha de Hidra tornou-se conhecida nos anos 60 por muitos famosos (como Leonard Cohen e Joan Collins) a terem escolhido para construirem casas.
Nesta ilha, onde os burros substituem os veículos, as suas mansões em pedra de estilo veneziano dispostas em torno da baia criam uma atmosfera especial que perdura todo o ano (e não apenas no Verão como acontece com a esmagadora maioria das ilhas que visitámos).
As fotos que se seguem foram tiradas (em momentos diferentes) pela minha filha, pelo meu sobrinho e por mim próprio.
Hidra será sempre um local para lembrar com saudades ...
Depois do caso das fardas na Loja do Cidadão, eis de novo Alegre em grande forma:
Caso dos ovos atirados à ministra em Fafe - Manuel Alegre: Interrogatório a alunos “é um atentado ao espírito da escola pública”
O deputado do PS, Manuel Alegre, classificou esta noite de “ intolerável” o caso dos interrogatórios a alunos de uma escola de Fafe feitos por um inspector da Educação. O objectivo era apurar o eventual envolvimento de professores no protesto que incluiu o arremesso de ovos à ministra Maria de Lurdes Rodrigues, aquando da sua visita à Escola Secundária de Fafe, em Novembro. Na sua rubrica na TVI24, Palavras Assinadas, Manuel Alegre afirmou-se “estupefacto e indignado” com o caso. Apesar de a Inspecção-Geral de Educação “já ter feito uma nota dizendo que nada de anormal ocorreu”, conta o deputado, “isto não pode ficar assim”. O assunto não pode ser silenciado porque “a escola pública existe neste país democrático para formar cidadãos, não bufos nem denunciantes”.
Ou seja, insultar e atirar ovos ás pessoas faz parte da formação democrática dos cidadãos. Mas por outro lado, tentar apurar responsabilidades pelos actos praticados, faz parte do ideário do fascismo e é obviamente um regresso ao 24 de Abril ... blá-blá-blá...
Faz sentido ...
Agora que já lhe deram finalmente um espaço que lhe assegura o protagonismo por que tanto procurou, não seria tempo de Alegre começar a falar de coisas sérias?
sábado, 25 de abril de 2009
A Star is born
A interprete sensação neste momento chama-se Susan Boyle, e foi dada a conhecer ao mundo através de um programa da televisão inglesa chamado "Britains got talent".
Eu não sei se todos os britanicos tem talento. Mas a voz desta mulher é de facto uma dádiva.
E mostra também como tantas vezes somos enganados pelos nossos próprios preconceitos.
Para ouvir e ouvir e ouvir ...
http://www.youtube.com/watch?v=j15caPf1FRk
domingo, 12 de abril de 2009
Medida de "cariz fascizante"
Alegre contra proibições na Loja do Cidadão de Faro
Manuel Alegre considera que a decisão de impor regras proibindo o uso de mini-saia e de decotes às funcionárias da Loja do Cidadão “é uma coisa de cariz fascizante, totalitário, contra a liberdade individual”.O deputado do PS e vice-presidente da Assembleia da República em representação deste partido considera que esta proibição não faz sentido e “é inconstitucional”, pelo que “tem que ser revogada”.Alegre insiste na revogação deste tipo de proibições, “sob pena de qualquer dia numa repartição alguém querer dizer como usar o cabelo e que livro ler”. Alertando para um clima cultural que considera estar a tomar espaço no país, Alegre frisa que “estas coisas são sinais” e “multiplicam-se estes sinais”. Por isso, “tem que ser levado a sério”. E “imediatamente revogado”.As críticas de Manuel Alegre surgem na sequência de uma ordem decretada na Loja do Cidadão de Faro, onde as funcionárias foram avisadas que não poderiam usar mini-saia, decotes exagerados, gangas e perfumes agressivos. Saltos altos e roupa interior de cor escura também foram considerados inadequados.
O que a ânsia de protagonismo não obriga ...
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Sinais do tempo
Quando pensamos que o lixo produzido para televisão não pode descer mais baixo, a Endemol vem e mostra-nos que não há impossíveis …
Novo "reality show" da Endemol põe trabalhadores em crise a despedirem colegas
08.04.2009 - Susana Almeida Ribeiro in "Diário Económico"
“Você é o elo mais fraco, adeus”. A frase, popularizada num concurso televisivo, volta a fazer sentido, desta feita num reality show. A produtora holandesa Endemol criou um programa em que são os próprios trabalhadores de uma empresa em dificuldades a decidir quem vai ser despedido. “Someone’s Gotta Go” é o nome do reality show que promete gerar polémica. O formato já foi vendido à americana Fox, que irá lançar o programa nos próximos meses. A fórmula é simples: no actual contexto de crise internacional, uma empresa em luta pela sobrevivência é convidada a entrar no programa.
Uma vez lá dentro, as câmaras irão captar a capacidade de trabalho de cada funcionário. Cada um deles irá lutar pela própria sobrevivência laboral. No final, aquele que menos produzir será despedido. A transparência fará parte do processo, uma vez que cada trabalhador vai controlar aquilo que fazem os seus colegas e vai ter acesso às suas fichas dos recursos humanos, incluindo a informação do valor do salário. Cada um deles terá igualmente que justificar os seus métodos de trabalho, junto de um grupo de discussão criado entre todos, que tomará a decisão final acerca do despedimento. Serão igualmente os trabalhadores a decidir quem é aumentado e quem irá sofrer um corte no salário, nesta espécie de “Você Decide” em versão laboral que acabou de ser apresentada em Cannes, durante a feira do audiovisual MipTV.
Espera-se que o programa estreie nos EUA no próximo Verão ou no início do Outono. A Endemol, que deu à memória colectiva êxitos televisivos como o "Big Brother", vendeu o formato à americana Fox Television e espera que o formato pegue e se reproduza internacionalmente. “Trata-se de tomar uma decisão difícil através de um processo democrático”, estimou David Goldberg, um dos directores executivos da Endemol para a América do Norte. “Normalmente essa é uma decisão autocrática, na qual o patrão determina quem é que vai para casa. É muito poderoso deixar que sejam os trabalhadores a decidir”, acrescentou. Mike Darnell, presidente da Alternative Entertainment, subsidiária da Fox, sublinhou à TvWeek o objectivo do programa: “Em vez de ser o patrão a tomar uma decisão arbitrária... são os funcionários que decidem que é que se vai embora”. Pondera-se que seja um orientador de um centro de emprego o apresentador do programa, talvez para ajudar no imediato o trabalhador caído em desgraça.
Este programa segue as pisadas de reality shows como “O Aprendiz”, no qual Donald Trump (na versão americana), fornece tarefas a uma série de candidatos que, se conseguirem ultrapassar todas as etapas, se tornarão trabalhadores do barão do imobiliário nova-iorquino.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Assim e aproveitando a coincidência da vinda a Atenas de Alfie Boe para um concerto no dia 7 (o dia do nosso aniversário) consegui arranjar bilhetes e fomos ver um espectáculo deste tenor britânico em que interpretou sobretudo árias famosas e canções italianas de amor….
Devo dizer que para quem goste do género (nós gostamos), foi de facto um grande concerto, a somar a outros que já tivemos oportunidade de assistir em Atenas (como os de Ennio Morricone, Plácido Domingo ou Andrea Bocelli).
Também isto nos vai deixar saudades …
Regressámos novamente a Atenas depois deste fim-de-semana prolongado em que fomos até Santorini.
Confesso que para quem como eu estava bastante entusiasmado sobre o que iria encontrar na ilha, o resultado final acabou por ficar um pouco aquém das expectativas.
Tenho a noção clara que o facto de termos ido antes da Páscoa ortodoxa grega (que se inicia a 17 de Abril, uma semana após a Páscoa católica), com a maior parte do comércio ainda fechado e o facto das condições meteorológicas não terem sido as melhores terá porventura contribuído para este resultado.
Mas sinceramente acho que não foram apenas estes factores que acabaram por me criar esta sensação de um certo desapontamento. No geral esperava que Santorini estivesse á altura dos seus apregoados pergaminhos de ser um dos mais bonitos locais da Grécia. Aquilo que encontrei (pelo menos em parte) não me faz estar de acordo com essa visão.
Alguns pontos da ilha, a começar pela capital, Fira, são extremamente desorganizados, e nota-se uma falta geral de cuidado na manutenção dos edifícios, dos parques, das ruas. A limpeza deixa bastante a desejar, e as estradas estão em más condições, há entulho (resultante das obras) pelas escarpas abaixo. Sobretudo nota-se falta de cuidado em manter os espaços arranjados e cuidados.
Para além disso, o dono fala várias línguas (até espanholês, aquela mistura entre espanhol e português, que encontramos em tantas partes do mundo – incluindo Portugal …!), o que facilita bastante a comunicação. Boa comida, boas condições de higiene, e preços muito razoáveis. Vale mesmo a pena ir até lá e experimentar.
Em Oia estivemos também num outro restaurante ("Terpsi"), com uma vista fascinante sobre a caldeira, onde almoçámos no dia da partida. Infelizmente o tempo não estava de feição, mas pelas imagens que seguem dá para ficar com uma pequena ideia da vista que tinhamos:
Santorini é uma ilha conhecida não apenas pelo seu turismo, mas também pela qualidade de alguns dos produtos agrícolas que produz como a fava ou o tomate, e sobretudo pelos seus vinhos de grande qualidade, resultantes das características únicas da ilha (para além dos fortes ventos e das condições geológicas derivadas do vulcão, não existe água potável, tendo dependido durante muitos anos apenas da água das chuvas; Hoje em dia para além de serem abastecidos de água pelo continente, também adoptaram o sistema de dessalinização da água do mar, sobretudo para efeitos de higiene e regas).
Por essa razão, as uvas produzidas localmente são mais pequenas do que o habitual e muito mais doces. Um dos vinhos mais famosos produzidos localmente é o VinSanto, um vinho doce que se bebe como digestivo. Para conhecer os aspectos relacionados com a produção de vinho em Santorini, nada como efectuar uma visita guiada a uma das diversas destilarias existentes.
Decidimos ir conhecer a SantoWines winery, ou seja a cooperativa dos produtores vinícolas de Santorini, e tendo aproveitado uma das visitas com guia, deu para aprender bastante sobre a produção de vinho na zona.
Após a nossa visita, (em que andamos desalmadamente a subir e a descer degraus!) nada como parar um pouco para repousar. Assim fizemos e decidimos descansar num pequeno bar/restaurante chamado "Lotza"
Oia é de longe a localidade mais bonita da Ilha, não me canso de repetir. Como ambos estávamos de acordo também nesse ponto, e como no domingo o estado do tempo não nos permitiu ir visitar o vulcão, decidimos então ir novamente a Oia para conhecermos a vila um pouco mais em detalhe. Dessa segunda vez, por ser mais cedo e não obstante o estado do tempo, deu para percorrer com algum vagar as ruas estreitas do castelo, com as suas pequenas lojas de comércio tradicional e de artesanato.
Quando nos preparámos para ir para o aeroporto começou a chover imenso e um manto espesso de nevoeiro caiu sobre a ilha, de tal forma que não viamos mais de 5 m de distância. A viagem de regresso até ao aeroporto foi uma aventura, … que aliás se prolongou depois no voo de regresso tal foi a turbulência que apanhámos, tendo as hospedeiras de bordo passado todo o voo sentadas com os cintos de segurança.
Mas o que são viagens sem aventuras deste tipo? O que é mais importante é que pesando todos os prós e contras, foi uma viagem que valeu mesmo a pena. E gostávamos de a repetir levando os nossos filhos, mas desta vez no Verão…
Antes de terminar, e para quem estiver a pensar em viajar até lá aqui ficam alguns conselhos:
1. Vá com bom tempo (por exemplo a partir de fins de Maio). Com chuva ou com o tempo encoberto (como apanhámos, sobretudo no último dia) não é possível ver na sua plenitude aquilo que dizem ser o azul único do mar de Santorini ou o fantástico pôr-do-sol em Oia. Além disso tínhamos planeado ir no domingo conhecer o vulcão, o que acabámos por cancelar devido á chuva.
2. As estradas e os caminhos (como é hábito) não são grande coisa. Por isso e caso tenha oportunidade faça como nós e alugue um jeep (bem na verdade não alugámos propriamente um jeep, alugámos um Suzuki Jimmy que era o que havia, e aqui entre nós, chamar um Jimmy de Jeep, é a mesma coisa que dizer que uma lagartixa é uma espécie de jacaré, mas mais pequenina …)
3. Procure ficar em Oia – que é claramente a parte mais bonita da ilha. Nós ficámos em Firostefani junto á capital, Fira, e esse foi certamente um dos aspectos que contribuiu para o tal desapontamento. Talvez não tenhamos tido oportunidade de conhecer mais em detalhe a localidade; no entanto o que vimos não deixou grandes saudades
4. Tenha em conta que os apartamentos localizados nas escarpas são muito bonitos, e nalguns casos permitem imagens de cortar a respiração …
Se tiver em conta estes conselhos, certamente irá gostar de Santorini. As pessoas são muito simpáticas (como são em geral em toda a Grécia), a paisagem é deslumbrante a gastronomia é fantástica, e o ambiente é único.
E como diz o meu amigo Ramon (também um pouco céptico em relação a esta Ilha), não se pode estar na Grécia sem se conhecer Santorini.