quarta-feira, 11 de março de 2009

Na passada segunda-feira teve lugar na RTP mais um debate sobre a actual crise económica (o 1327º programa desta semana sobre o mesmo tema …).

Desta vez o fórum escolhido foi o “Prós e Contras”, moderado (moderado é uma forma de expressão) por Fátima Campos Ferreira, essa personagem única do panorama televisivo actual, que consegue aliar o pretensiosismo e a falta de isenção de Mário Crespo (esse outro ícone da “excelência” televisiva), com o estilo artificial, bacoco e feirante de Artur Albarran…

Mas voltando ao tema, na minha opinião, o que faz o momento que estamos a viver parecer ainda pior do que possivelmente já é, assenta no facto de estarmos apenas e sistematicamente a falar da crise, das causas da crise, do que vamos sofrer com as consequências da crise, agora e no futuro, e todos os palpites e exercícios de futurologia que actualmente qualquer um dá sobre o tema, e que em nada contribui (antes pelo contrário) para que se vença este desafio.

Tenho para mim que muitas das vezes a dimensão que as situações tomam é aquela que lhes damos e não aquela que elas realmente têm. Isto aplica-se a (quase) tudo na nossa vida, e a actual situação não é diferente. É evidente que com isto não pretendo colocar em causa a importância e a seriedade dos desafios que o mundo atravessa neste momento. No entanto, se ouvirmos o que se diz e escreve por ai todos os dias, a sensação que fica é a de que neste momento estamos praticamente á beira do colapso final económico, financeiro, moral, social, etc. Basta abrirmos um jornal, uma estação de rádio ou tv, ou um site da Internet para sermos imediatamente bombardeados com previsões catastróficas que qualquer personagem, que pretenda ter alguns segundo de fama, produz sob a forma de soundbites imediatamente ampliados pela comunicação social.

Isto leva-nos, em primeiro lugar, a questionar qual deverá ser o papel da Comunicação Social nos momentos de crise: Se o de bombeiro, se o de pirómano. Pessoalmente não tenho dúvidas de que a maioria dos media assumiu a segunda opção, e dai a forma irresponsável e pouco informada como uma boa parte dos órgãos de informação tem abordado estas questões, o que tem contribuído fortemente para a geração de um sentimento de depressão social que paulatinamente se tem vindo a instalar na sociedade. (Não é por acaso que o “Velho do Restelo” surge na literatura portuguesa como uma personagem incontornável… )

Não defendo que o caminho a seguir seja o de fazer como a avestruz, e metendo a cabeça na areia esperar que a tempestade passe. Mas também não me parece que seja a melhor terapia estar sistematicamente a gritar que o fim está próximo. Porque não está.

O que se passa é que crises económicas sempre existirão (com maior ou menor impacto), e serão seguidas por períodos de prosperidade e expansão, que serão seguidos por períodos de recessão, que serão seguidos novamente por períodos de crescimento… é a lógica dos ciclos económicos, e não é de agora, é de sempre. E contra isto só há uma forma de actuar: é aproveitando as oportunidades que as crises trazem, e transformá-las em vantagens.

Como bem escreve Vítor da Conceição Gonçalves, no artigo “Viva a Crise”, publicado na edição online do “Diário Económico” de 11 de Março:

“(…) Na " economia da depressão, " conviver com a crise é uma atitude passiva e como tal inadequada. O desafio é viver a crise. Isto é, diagnosticar e antecipar as principais ameaças e oportunidades. Sistematizar e implementar as medidas defensivas que permitam a sobrevivência num ambiente económico incerto. E sistematizar e implementar actuações de natureza ofensiva que permitam a construção de vantagens a realizar no pós-crise. (…).”

Nessa medida o “Prós e Contras” de segunda feira, muito graças aos seus intervenientes (e não obstante o esforço de FCF em tentar arrastar o debate para o lado piegas e popularucho da questão), representou uma lufada de ar fresco no panorama pró-depressivo que se instalou na generalidade da comunicação, ao convidar pessoas que procuraram de uma forma ou de outra transmitir a mensagem de que a solução terá de partir em boa parte de todos nós, e não dos outros

Já é tempo de cada um pensar naquilo que pode fazer para vencer este momento. Já é tempo de olharmos para o futuro e termos presente que os tempos de crise são igualmente tempos de oportunidade. É isto não é apenas um chavão. De facto é nestes momentos em que todos temem erguer a cabeça com receio do que ai possa vir, que quem levantar os olhos verá as oportunidades que os outros não conseguem ver.

Como dizia a canção, esta é a vantagem da ambição: podemos não chegar á lua, mas tiramos os pés do chão.

1 comentário:

  1. Concordo plenamente! Neste momento a palavra 'crise' está tão cravada na mente das pessoas, que ninguém consegue dizer 3 palavras sem que uma seja 'crise'. Opá, venham passar férias à Grécia, comer uns souvlakis e beber ouzo! Depois disso a crise vai parecer muito mais relativa!! Ahahahah!

    ResponderEliminar